Sobe para 20 o número de municípios em situação de emergência no AM pela cheia dos rios; mais de 209 mil pessoas são afetadas
17/05/2025
(Foto: Reprodução) De acordo com o Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, as nove calhas dos rios amazonenses devem continuar em processo de cheia até, pelo menos, o mês de junho. Pontes de madeira foram construídas para ajudar no deslocamento de moradores em Benjamin Constant
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
O número de municípios em situação de emergência por causa da cheia dos rios no Amazonas subiu para 20, conforme a atualização mais recente do Painel de Monitoramento Hidrometeorológico da Defesa Civil do Estado, neste sábado (17). Mais de 209 mil pessoas estão sendo afetadas diariamente pelo fenômeno, direta ou indiretamente, com dificuldades de locomoção, perda de produção rural e inundações dentro das residências.
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Historicamente, o processo de cheia na região tem início na segunda quinzena do mês de outubro, com o fim da seca, que em 2024 bateu recordes no estado.
A previsão é de que o cenário se prolongue. De acordo com o Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, as nove calhas dos rios amazonenses devem continuar em processo de cheia até, pelo menos, o mês de junho.
Nas últimas 48 horas, dois municípios passaram do estado de alerta para emergência: São Paulo de Olivença, banhado pelo Rio Solimões, e Jutaí, banhado pelo rio que dá nome ao município e que é um afluente do Solimões.
Confira a lista dos 20 municípios que estão em situação de emergência e as medições registradas no sábado (17):
Humaitá - Rio Madeira - 22,22 metros
Apuí - Rio Madeira - não divulgado
Manicoré - Rio Madeira - 27,46 metros
Boca do Acre - Rio Purus - 8,73 metros
Guajará - Rio Juruá - 7,98 metros
Ipixuna - Rio Juruá - 10,38 metros
Novo Aripuanã - Rio Madeira - não divulgado
Benjamin Constant - Rio Solimões - não divulgado
Borba - Rio Madeira - 21,32 metros
Tonantins - Rio Amazonas - 16,08 metros
Itamarati - Rio Juruá - 19,33 metros
Eirunepé - Rio Juruá - 14,01 metros
Atalaia do Norte - Rio Solimões - 12,49 metros
Careiro - Rio Solimões - 19,32 metros
Santo Antônio do Içá - Rio Solimões - 13,72 metros
Amaturá - Rio Solimões - não divulgado
Juruá - Rio Solimões - 23,40 metros
Japurá - Rio Amazonas - 13,15 metros
São Paulo de Olivença - Rio Solimões - 14,28 metros
Jutaí - Rio Jutaí - 25,32 metros
Além dos municípios em emergência:
Três estão em estado de atenção;
37 em alerta;
e dois em normalidade.
🌧️ Segundo o meteorologista e pesquisador Leonardo Vergasta, dois fenômenos explicam o aumento no volume dos rios em comparação a 2024:
O Inverno Amazônico, que traz chuvas acima da média para a Região Norte e deve durar até o fim de maio.
O La Niña, que chegou ao fim em abril, mas deixou consequências.
“No início de 2025, tivemos a atuação do La Niña, que resfria as águas do Pacífico Equatorial. Isso aumenta a intensidade das chuvas na região. Como coincidiu com nosso período chuvoso, desde fevereiro, toda a bacia amazônica registrou volumes de chuva acima do normal”, explicou o pesquisador.
Cheia já afeta mais de 209 mil pessoas no Amazonas.
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
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Impactos na produção rural
O município de Benjamin Constant, localizado na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, é um dos mais afetados pela cheia dos rios. Desde março, parte da orla da cidade está submersa e muitas casas às margens do Rio Javari, afluente do Solimões, também.
Já são quase 21 mil pessoas afetadas diretamente pela cheia do rio nas zonas urbana e rural, o que representa cerca de 45% da população do município.
Na zona rural, agricultores perderam praticamente toda a produção. É o caso da agricultora Ana Luzia, que cultiva hortaliças.
"Nós 'plantava' couve, repolho, alface, cheiro verde, temos também mandioca plantado, e tudo foi levado pela água. Há dois anos que não alagava e esse ano foi levando tudo", relatou.
O maracujá, um dos principais alimentos cultivados no município, também acumula perdas de produção. O excesso de água prejudica o cultivo do maracujá, faz as folhas e o caule secarem e os frutos não se desenvolverem por completo
"É um prejuízo que a gente não pode nem calcular, porque se não alagasse, eu ia ficar colhendo dois anos tranquilo, só fazendo o termo de podar", disse o agricultor Juarez Lima.
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Alexandro Pereira/Rede Amazônica
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