Pais de Benício Xavier dizem que lutam para 'sobreviver' após morte da criança e fazem protesto
01/12/2025
(Foto: Reprodução) Familiares realizam manifestação em Manaus e pedem justiça pela morte de Benício Xavier
Familiares de Benício Xavier de Freitas realizaram uma manifestação nesta segunda-feira (1º) em frente ao Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM), em Manaus. O grupo pediu por justiça e responsabilização pelos erros que, segundo a família, levaram à morte da criança após receber uma medicação aplicada de forma incorreta em um hospital particular da capital.
Benício, de 6 anos, morreu após receber uma dosagem incorreta de adrenalina durante atendimento entre 23 e 24 de novembro. A médica também admitiu o erro em documento enviado à polícia. O caso é investigado pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) e pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM).
O ato reuniu parentes, colegas de trabalho e amigos do pai da criança. Eles levaram cartazes, faixas e balões com mensagens de homenagem e pedido de justiça.
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A mãe de Benício, Joyce Freitas, disse que a família enfrenta um luto difícil e que a morte do filho não pode ser tratada como falha individual.
"Não tem só um culpado. Foram vários erros, várias negligências. A gente está aqui de pé só para lutar pelo Benício, porque a gente está sobrevivendo", afirmou em entrevista à Rede Amazônica.
Familiares também disseram ter recebido a informação de que a médica investigada poderia estar trabalhando em outra unidade privada de saúde, mas afirmaram não ter conseguido confirmar a situação. Por isso, o ato foi realizado em frente ao CRM-AM.
O pai da criança, Bruno Freitas, afirmou que a família teve pouco retorno do hospital. "Do hospital, recebemos só o prontuário. Só isso. O que a gente quer é justiça", disse.
Ele também questionou a ausência de um farmacêutico responsável pela análise das prescrições.
"O CRF falou que não havia farmacêutico analisando as prescrições. Isso não pode acontecer. A dose aplicada no meu filho é muito alta para uma criança de 6 anos e 21 quilos", afirmou.
Familiares marcam manifestação em Manaus e pedem justiça pela morte de Benício Xavier
Reprodução/Rede Amazônica
Em nota, divulgada no dia 29 de novembro, o Conselho Regional de Farmácia do Amazonas informou que após vistoria técnica que constatou que não há análise farmacêutica prévia das prescrições emitidas nas farmácias satélites do Pronto-Socorro e do Centro Cirúrgico, em razão do quadro reduzido de farmacêuticos informado pela instituição.
Assim, ficou evidenciado que não houve participação do profissional farmacêutico na dispensação do medicamento envolvido no caso.
O caso é investigado pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) e pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM).
Investigação
No dia 26 de novembro, o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) informou que instaurou processo ético, em caráter sigiloso, para apurar a conduta da médica Juliana Brasil Santos.
O Hospital Santa Júlia afastou duas profissionais que atuaram no atendimento da criança, sendo elas: a médica, identificada como Juliana Brasil Santos, e a técnica de enfermagem, Raiza Bentes.
No relatório do hospital enviado à Polícia Civil, ao qual a Rede Amazônica teve acesso com exclusividade, Juliana reconhece que errou ao prescrever adrenalina na veia de Benício Xavier.
No documento enviado, a médica narra que comentou com a mãe da criança que a medicação deveria ser administrada por via oral. Ela afirmou também ter se surpreendido por a equipe de enfermagem não questionar a prescrição.
Em Manaus, médica admite erro em morte de criança
Já a técnica de enfermagem Raiza Bentes, que atendeu Benício Xavier, disse que apenas seguiu a prescrição médica ao aplicar a dose de adrenalina.
Segundo o delegado Marcelo Martins, o caso é investigado como homicídio doloso qualificado. A investigação, que já colheu depoimentos e analisou prontuários, avalia a possibilidade de que o episódio seja tratado como homicídio doloso qualificado pela crueldade.
Apesar do pedido de prisão preventiva da médica pelo delegado, a Justiça negou por entender que não há, até o momento, "fundamentos suficientes" para manter a prisão. A profissional segue respondendo o processo em liberdade.
O caso
Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia, no dia 22 de novembro, com tosse seca e suspeita de laringite, após apresentar dois episódios de febre.
A família disse que a criança foi atendida por uma médica, que prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml a cada 30 minutos. A aplicação foi feita por uma técnica de enfermagem de plantão.
“Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer", relatou o pai.
Segundo os pais, Benício apresentou uma piora súbita: ficou pálido, com membros arroxeados e relatou que "o coração estava queimando". A saturação de oxigênio caiu para cerca de 75%. Ele foi levado para a sala vermelha e, em seguida, intubado na UTI, por volta das 23h.
Segundo o pai, a intubação provocou as primeiras paradas cardíacas. O menino sofreu seis paradas consecutivas, todas com tentativas de reanimação. A última foi fatal. Benício morreu às 2h55 do dia 23 de novembro.
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Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, faleceu em hospital de Manaus.
Arquivo pessoal