Mãe de colega de escola de Benício relata sofrimento do filho após perda: 'Ele está incompleto'
05/12/2025
(Foto: Reprodução) Veja cronologia do atendimento que levou à morte de criança após aplicação de adrenalina
A morte de Benício Xavier, de 6 anos, vítima de erro médico em Manaus, gerou comoção entre familiares e amigos. Em uma publicação nas redes sociais, Thays Carioca, mãe de Pedro, melhor amigo de Benício, relatou como a perda afetou profundamente o filho, que precisou lidar com a ausência do colega.
Na publicação compartilhada pelo pai de Benício, Bruno Freitas, Thays descreveu a forte amizade entre as duas crianças, que estudavam juntas e dividiam a rotina escolar, e revelou que agora o filho se sente ‘incompleto’ com a perda do amigo.
“‘Mamãe, faz dois sanduíches? Meu amigo gosta do meu lanche e eu divido com ele’. E assim, todos os dias tinha pão com Nutella para Pedro e Benício. Quando precisava ir fantasiado para a escola, lá estavam os dois, e nós, as mães, procurando fantasias iguais”, escreveu.
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Ela também contou que o filho ficou abalado e está incompleto ao descobrir que o amigo havia sido levado para a UTI após o atendimento médico.
“Ele viu mensagens no grupo de mães e perguntou: ‘o que é UTI?’. Quando expliquei, ele foi pro quarto, se ajoelhou e pediu com tanta fé para que o amigo saísse de lá. Ao acordar, quis saber se ele já tinha melhorado. E eu precisei contar o que tinha acontecido”, relatou.
Em uma publicação nas redes sociais, Thays Carioca, mãe de Pedro, melhor amigo de Benício, relatou como a perda afetou profundamente o filho, que precisou lidar com a ausência do colega.
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'Eles eram muito amigos mesmo'
A mãe de Benício, Joyce Xavier, reforçou a ligação entre os dois meninos. Ao g1, ela explicou que Pedro foi o primeiro grande amigo do filho na nova escola.
“Foi o primeiro ano do Benício nessa escola. Ele chegou sem conhecer ninguém e logo fez um laço muito forte com o Pedro. Eles eram muito amigos”, disse.
Segundo Joyce, a amizade das crianças aproximou também as famílias.
“Eles sempre queriam fazer tudo juntos. Escolheram a profissão policial na atividade da escola, compramos as fantasias juntos. O Pedro levava Nutella com bisnaguinha e sempre oferecia pro Benício. Depois, passou a pedir para a mãe fazer dois sanduíches porque o amigo gostava.”
Ela conta que Pedro sentiu profundamente a ausência de Benício quando voltou às aulas após a morte do menino.
“Ele voltou para a escola e ainda tinha uma semana de aula. Sentiu muito. O Benício não estava lá para dividir o lanche, para brincar. Ele ficou abalado, deixou de comer o pão com Nutella que amava, deixou de se alimentar direito”, relatou.
Caso Benício: Mãe de colega de escola relata sofrimento da criança após saber da morte do amigo.
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Impacto da perda
Ainda conforme Joyce, durante o velório de Benício, Joyce e Pedro estiveram presentes e ela viveu momentos que nunca vai esquecer ao ganhar um abraço do amigo do filho.
“No velório, eu chorei muito abraçando o Pedro. Eles tinham a mesma altura, o mesmo corpinho. Abracei ele e pensei no meu filho, que eu não tinha mais para abraçar. A mãe dele me contou que, ao chegar em casa, ele perguntava: ‘mãe, será que a mãe do Benício não quer meu abraço?’. É muito doloroso”, completou.
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O caso
Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia no dia 22 de novembro com tosse seca e suspeita de laringite. Segundo a família, ele recebeu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml a cada 30 minutos, aplicadas por uma técnica de enfermagem.
"Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Perguntamos e a técnica disse que também nunca tinha aplicado desse jeito. Mas afirmou que estava na prescrição", relatou o pai.
O menino piorou rapidamente: ficou pálido, com membros arroxeados, e disse que "o coração estava queimando".
A saturação caiu para cerca de 75%. Ele foi levado à sala vermelha e depois para a UTI por volta das 23h. Durante a intubação, sofreu as primeiras paradas cardíacas. Foram seis no total. Ele morreu às 2h55 do dia 23 de novembro.
Investigação
No dia 26 de novembro, o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) abriu processo ético sigiloso para apurar a conduta da médica. O Hospital Santa Júlia afastou tanto Juliana quanto a técnica de enfermagem Raiza Bentes.
O delegado Marcelo Martins investiga o caso como homicídio doloso qualificado, considerando inclusive a possibilidade de crueldade. Ele chegou a pedir a prisão preventiva da médica, mas Juliana continua protegida por habeas corpus concedido pela Justiça.
As duas foram colocadas frente a frente em uma acareação nesta quinta-feira (4), como parte das investigações sobre a morte do menino Benício.
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Reprodução
O que diz a defesa
A defesa de Juliana Brasil Santos afirmou que a médica reconheceu o erro “no calor do momento” e sustenta que uma falha no sistema automatizado do Hospital Santa Júlia teria alterado a via de administração registrada pela médica.
Os advogados apresentaram vídeo para mostrar problemas na plataforma e alegam que instabilidades no sistema contribuíram para o agravamento do quadro de Benício. Assista abaixo.
Advogado alega falha no sistema como causa de erro no modo de aplicação de adrenalina
Ao lado do advogado, Raiza reforçou a versão que apresentou no depoimento e enfatizou que estava sozinha, sem auxílio.
O hospital informou que não vai se manifestar sobre o caso.
Infográfico - Caso Benício
Arte g1