Extremos nos rios da Amazônia acendem alerta para impactos das mudanças climáticas
22/07/2025
(Foto: Reprodução) Rio Negro bate recordes extremos
Fenômenos extremos têm sido cada vez mais frequentes na maior bacia hidrográfica do planeta. A região amazônica enfrenta secas severas, grandes cheias e recordes de calor, em um cenário que especialistas associam às mudanças climáticas.
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Um dos principais símbolos dessa transformação é o Rio Negro, que banha a capital do estado, Manaus. Monitorado há 123 anos, o rio registrou sete das dez maiores cheias da série histórica apenas nos últimos 17 anos. A maior delas ocorreu em 2021, quando o nível das águas chegou a 30,02 metros.
Nos anos seguintes, o contraste foi ainda mais evidente. Após duas das maiores enchentes já registradas, o Rio Negro atingiu, em 2023 e 2024, os níveis mais baixos já medidos para o período de seca.
A paisagem do Porto de Manaus também mudou. Uma faixa extensa de areia, visível durante a estiagem, desapareceu em poucos meses. Em 2025, o rio voltou a subir rapidamente e ultrapassou a cota de inundação severa.
De acordo com o pesquisador em geociências do Serviço Geológico do Brasil, André Martinelli, esse comportamento extremo não se limita ao Rio Negro.
"O que a gente observa é que, mesmo com as diferenças de tempo entre as bacias, você vê recordes sendo batidos. Isso acontece em todas: Japurá, Juruá, Purus, Solimões, Negro, isso em épocas diferentes, mas com o mesmo padrão", afirmou.
Pesquisadores também identificam que os intervalos entre esses recordes vêm diminuindo. Ao mesmo tempo, cresce a diferença entre os níveis máximos e mínimos dos rios, uma tendência que pode se intensificar nos próximos anos e causar ainda mais impacto nas populações ribeirinhas e urbanas da região.
O meteorologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Renato Senna, com quase quatro décadas de atuação, explica que os efeitos no regime de chuvas já são perceptíveis.
"É uma mudança climática clara. E esse processo, seja causado por fenômenos naturais ou por ação humana, pode levar décadas, talvez séculos, para que volte ao padrão anterior", alertou.
Para André Martinelli, o momento exige mais do que observação. "É algo que ainda precisa de estudo, de mais evidências. Mas, acima de tudo, é hora de investir em pesquisa e em ações que ajudem a minimizar os impactos", concluiu.
Situação atual no estado
Cheia dos rios no AM coloca 40 dos 62 minucípios do estado em situação de emergência
De acordo com o último boletim do Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, 133.711 famílias foram atingidas, sendo cerca de 534 mil pessoas afetadas diretamente. As nove calhas de rios do Amazonas seguem em processo de cheia, com picos variando entre março e julho.
Segundo os decretos municipais:
42 cidades estão em Situação de Emergência
13 em Alerta
6 em Normalidade
Comparativo mostra Manaus na seca de 2024 e na cheia de 2025
Rede Amazônica